quarta-feira, 6 de maio de 2009

Há comentários que nunca se ultrapassam...

Ontem nem consegui escrever sobre isto.
Na formação falamos da importância do vestuário no contexto de trabalho. É que nem de propósito! No primeiro dia que levo um decote fala-se de decotes. E notei dois dos meus colegas a comentar. Nada que eu não esteja habituada, verdade seja dita.
Mas aqueles olhares de outros elementos do grupo fizeram-me sentir muito mal. Mesmo. Foi a pior situação por que já passei. A mais embaraçosa, sem dúvida. Não pelo decote em si, mas porque me fez reviver um dos meus maiores complexos: o tamanho do meu peito.
Um dia disseram-me: "Se eu tivesse um peito como o teu, matava-me." A minha melhor amiga disse-me isto. E não foi a brincar. Tinha eu 16 anos e nunca mais me esqueci. Procurei clínicas para fazer uma mamoplastia de redução mas não foi possível. Eu era menor e precisava da autorização da minha mãe. Inventei que me doía sempre as costas e o médico chegou a considerar se o peso do peito não era a causa. A verdade é que, felizmente, não fiz a cirurgia.
Mas foi muito difícil aguentar tudo naquela altura. Até que comecei a compreender a diferença entre maldade e sinceridade.
Seja como for, as marcas ficaram. Não físicas mas aquele comentário marcou-me muito. E ontem revivi a vergonha que já cheguei a sentir de mim. Inconscientemente comecei a encolher-me e só pensei para mim própria: "Por favor, parem de olhar." Só queria que a formação acabasse. Não pedia mais nada. Pensei sair da sala mas não o fiz. Não tenho de ter vergonha, mas às vezes é difícil ter um raciocínio coerente. E quando vem o célebre comentário: "Mamas grandes é sinónimo de ter todos os gajos que quer porque é uma oferecida."
Nem será preciso dizer que nem abri a boca, não participei na discussão. Mas fico triste porque isso não é verdade. Não é mesmo verdade. Não é um decote e um peito maior que fazem milagres. Muito pelo contrário (no meu caso).
Por isso é que eu digo, cuidado com as generalizações...

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